2008 - O ano do 80



O ano de 2008, foi o ano do "80" no que diz respeito à publicação de guias de escalada em Portugal, feitos por autores Portugueses. Passámos do 8 para o 80, ou melhor de 0 para 4.

Ora vejamos,... em Fevereiro eu e o Filipe Cardinal com o apoio da Associação Pé no Trilho, apresentámos o Guia de Escalada do Litoral Centro de Portugal, guia que documenta praticamente todas as zonas de escalada do litoral centro português (desportiva, bloco e clássica). Quase ao mesmo tempo, nos Açores, mais precisamente na Ilha Terceira, a Associação "Os Montanheiros" edita o guia de escalada da mesma ilha, obra que apresenta as suas 3 zonas de escalada (desportiva e bloco). Novamente no continente, em Maio, Paulo Roxo, com o apoio editorial da Loja Espaços Naturais lança o Guia de Escalada do Cabo Carvoeiro, livro que documenta as 132 vias de "entalecos" daquela península. Mesmo a acabar o ano, ainda os insulares (Os Montanheiros leia-se), editam o Guia de Escalada Pico/São Jorge (desportiva). É caso para dizer que demorou mas foi...

Existem ainda outras obras na calha, de outros autores, que estão à espera de luz verde para nascer, a eles e a outros que pensem em lançar-se ao desafio apenas se podem pedir "ganas" e motivação para terminar o projecto, afinal é possível haver em Portugal publicações de qualidade, na área técnica da Montanha e/ou Escalada.

Marco Inácio

Abertura de duas novas vias


O dia amanheceu pálido e fresco, mas os gráficos do NOAA ditavam "boas abertas" para a serra, eu e o Nuno estávamos já a caminho com o carro apontado para a Meadinha, quando interpelo o Nuno com a dúvida: -Vamos para a Meadinha ou queres ir até Castro Laboreiro fazer o reconhecimento de uma parede que eu vi a semana passada com umas boas fissuras e abrir umas linhas novas? Pausou um pouco e responde: -Hummm... abrir umas linhas novas é interessante, vamos lá. Aproveitámos o embalo do carro e em vez de virarmos em direcção ao Soajo, seguimos em frente direcção a Espanha pelo Lindoso e cerca de 45 minutos depois voltamos a entrar em Portugal pela fronteira da Ameijoeira já bem perto de Castro Laboreiro. Em Castro ainda há tempo para uma pausa e um café na residencial, onde, para nosso espanto, nos cruzamos com 4 GNR da BT montados no seu Subaru Impreza, (deveria ser para caçar umas multas às carroças), ...adiante. Café tomado, descemos até à Assureira (aldeia +- a 2 Km a sul de Castro), onde se situa a parede.


O estacionamento faz-se junto aos Moinhos da Assureira e o acesso à parede segue pelo PR sinalizado (ver informações do croqui). Enquanto dentro do PR o trilho é óptimo, quando se sai a coisa piora um bocado, mas nada de extraordinariamente extraordiário é necessário apenas trepar uns blocos, amassar um bocado de mato e dizer uns palavrões até lá chegar.


Já junto à parede, foi começar a procurar as melhores fissuras para começar a escalar e... pedra acima rocha abaixo o Nuno lá descobre a melhor entrada para, o que vinham a ser, as duas vias que iríamos abrir. Cabe ao Nuno abrir o primeiro lance, uma sequência inicial de boas fissuras paralelas que convergem mais acima numa só, que irá terminar numa comprida fissura horizontal um pouco suja. Ao chegar a esta fissura o Nuno agarra num "frigorífico" que cá debaixo parecia um enorme puxador, continuação da fissura vertical, mas que na realidade era um grande calhau solto, que por sorte não veio parar exactamente onde eu estava, calhau que acabei por mandar abaixo quando foi a minha vez de escalar. Daqui para cima até à primeira reunião, ou se proteje como um camalot nº6 na fissura que nos acompanha ao nosso lado esquerdo, ou então se vai de rabo entre as pernas até ao enorme nicho onde se monta a reunião. Fiquei eu com o segundo lance, facilito mas longo (60 Mts duas protecções, não dá para mais), a reunião monta-se com um camalot nº3 ou dois de preferência, não há fissura para mais pequeno. Daqui nasceu a "Estreia do Topas - L1 IV+; L2 III+"


Para descer acabámos por complicar à primeira, pois demos uma grande volta quando afinal descobrimos (na descida da segunda via) que havia um excelente canal com acesso directo à base da parede.


A segunda via do dia nasce à esquerda da primeira e vence uma fissura inicial vertical que se proteje com um camalot nº3 e que uns metros mais acima deixamos e apanhamos uma grande fissura/lage oblíqua que passa a horizontal que idealmente se proteje com um camalot nº4 mas que na altura não tínhamos e portanto ficou por proteger, ou melhor pus um nº3 lá para dentro e rezei que se solicitado, fizesse atrito em alguma molécula de oxigénio ... correu bem, passei a lage e dobrei para uma placa onde se consegue proteger com um stopper pequeno numa pequena fissura inicial e que depois acaba por cegar, daqui até à próxima protecção são uns bons 15 metros em contacto com o divino. Chega-se a uma boa fissura horizontal onde montamos uma reunião à bomba. Para o segundo lance é só seguir a enorme fissura à nossa frente, que se protege com um nº3 debaixo de um bloco saliente e depois de passar este, uns metros mais acima, deixa-se a fissura e toma-se à direita uma palca facilita que nos vai levar à fissura onde montámos a 2ª reunião da via "Estreia do Topas" e que será comum a esta. Nasceu assim a "Terra dos Subarus - L1 V+; L2 IV"


O acesso

Ainda o acesso mas já na zona do mato


A passagem de acesso às vias

Nuno a abrir o 1º lance da "Estreia do Topas"



A Primeira Reunião

Eu a abrir o segundo lance da mesma via


Ainda nesse lance


A 2ª reunião

O Nuno no segundo lance da (Terra dos Subarus)

Nós no topo da parede

Escalada na Torre Pequena - Lindoso


O Croqui



Torre Pequena ao Fundo

Quinta-feira dia 13 de Novembro, são 08.05h e o meu telemóvel toca, é o Nuno que já está lá em baixo à minha espera, acabo as últimas arrumações e desço as escadas em passo de corrida, ele já está com a bagageira aberta, no entanto ainda há tempo para um café e um pastel de nata na pastelaria em frente a casa... 15 minutos depois já estamos metidos no seu Ford Fiesta rumo a Norte, destino: Torre Pequena no Lindoso e à via Cromlech, aberta pelo Pedro e pela Rita Pacheco.


Às 09.30h já andamos à procura da parede, caminho abaixo, caminho acima, qual Fiesta 4x4, e... nada, fo#.+* não encontramos a parede, solução... puxámos pelo Kit de emergência e... ouve-se uma voz ensonada do outro lado da linha: - estou?! e eu respondo: - sim, Pedro Guedes (da Espaços Naturais) é o Marco Inácio, ando aqui fo#.+*ido com o Nuno à meia hora à procura da Torre Pequena, dá-nos lá uma ajuda. Dois ou três re-telefonemas depois lá conseguimos perceber as suas indicações e tomámos o caminho certo. Na conversa alertou-nos que a parte do caminho de terra só se fazia em 4x4 e portanto, mais 2 km de caminho a pé e que em termos de acesso pós caminho de terra, ainda que o trilho tivesse mato, seria mais ou menos simples chegar à parede, pois o Pedro Pacheco estivera lá uns tempos antes e tinha-lhe dado essa indicação.



Primeiro: O Pedro Guedes não sabia que tinhamos um Ford Fiesta e portanto um 2x4 à altura de nos levar até ao início do trilho.

Segundo: O trilho??!! Sem mato??!!.... o catano ou o camandro ou o caneco, isso é que era bom, ou não demos com o trilho ou então... não sei...

... passámos a segunda ponte, por cima do rio Cabril, e logo pela direita, já com a Torre bem visível, pusemo-nos a atalhar na sua direcção, por entre silvas, tojos, urzes, medronheiros, e outras arbustivas lá fomos muito lentamente ao som dos mais belos, cara#=*#, fo$#*-se fi#*... da pu+#$, emanados pelas cordas vocais do Nuno... hora e meia depois de sair do carro, estamos na base da parede, encharcados, esfaimaidos, desanimados, enfim... do piorzinho.

Ao meio dia e meio começamos a escalar, o primeiro lance fica por minha conta e revela-se arbustivo, húmido e de pouco interesse, tem apenas uma passagem de IV grau, num diedro/chaminé a dois metros abaixo da reunião que viria a montar a seguir. No segundo lance, o Nuno vai na frente, mas fazemos cerca de 30 metros com as cordas debaixo do braço e sem colocar qualquer protecção (III grau). Logo que a parede empina, montamos uma reunião e o Nuno volta a ir na frente. A primeira parte do lance é muito suja e apenas nos últimos metros a coisa melhora. Este lance tem apenas um passo de IV uns 7 metros abaixo da reunião. O quarto lance coube-me a mim, inicialmente tivémos dúvidas por onde seguia, se pela chaminé à esquerda se pela placa em frente, mas foi pela placa que nos decidimos e ao que parece bem, apesar dos primeiros metros serem um pouco expostos, mais para cima o lance revela-se bonito e fotogénico e a bem da verdade o dia valeu por ele. São 15.30h e estamos na quarta reunião, esta era a hora limite para sairmos da parede, rapelar, chegar às mochilas, rumar ao carro, tudo junto ainda eram quase duas horas e o caminho que tinhamos pela frente não estávamos com vontade de o fazer à noite, por isso... tivémos mesmo de descer, não deixando no entanto de perceber que os lances mais interessantes e mais verticais vinham a seguir... teriam de ficar para uma apróxima. Na linha de rapel identificámos uma fissura/diedro fantástica, limpa, com uns 15 a 20 metros que promete.

O caminho de descida... igual ao de subida, picante...

São 17.15h, chegamos ao carro e penitanciamo-nos por não ter ido para a Meadinha ;-) ... mas valeu a experiência e o local.


O mato... e o Nuno.



Primeira Reu





Nuno no primeiro lance





Segunda Reu




Nuno a ver a parede por onde segue a via



A fissura horizontal por onde segue a via (de cima)



O Nuno no passo mais acrobático da via



Na placa de saída a chegar à quarta reu



O Rapel, à direita fica a fissura de cerca de 20Mts


Eu no fim do Rapel, com a fissura à esquerda.

Maio 2008 - Escalada no Peñon Grande de Grazalema


No início de Maio deste ano, eu, o Nuno Gonçalves, a Mónica Campos, O Gonçalo Catarino e o Ricardo Neves, fugimos da chuva e frio lusitanos e numa Roc Trip Anadaluza escalámos em Grazalema e San Bartolo. Das vias que escalámos, vou apenas aqui apresentar a clássica que eu e o Nuno fizémos ao Peñon Grande de Grazalema (1034Mts).


Mónica, Gonçalo, Nuno, Ricardo e eu

Na ascensão ao Peñon Grande de Grazalema eu e o Nuno tencionávamos (por aconselhamento) fazer a Vuelo del Aguila com grau máximo de IV+, no entanto as características da parede, não nos permitiram identificar exactamente a via e foi inventar por aí acima. Do invento, saiu um lance novo na parede, o nosso penúltimo, com grau 6a [de cor azul no croqui, (a vermelho está o traçado da via que fizémos que julgamos ser também o da via original e a vermelho tracejado a continuação da mesma via que acabámos por não seguir)].


Nuno a abrir o primeiro lance


Grazalema lá em baixo e o Nuno a chegar à 4.ª reunião.


Eu algures no terceiro lance


Nuno a sair da verticalidade do 6.º lance, o novo que abrimos.


Ainda nesse lance

Nós no cume.


À noite o merecido jantar...

... com a bela chouriça caseira.

O CROQUI



Gredos 2007 - Escalada no 2º e 3º Hermanito (2329Mts)

No final do ano passado, por volta do Natal, eu, o Nuno Gonçalves (Topas), o Diogo, o Octávio Almeida, o António Neto e o Tiago Santos, fizémos mais uma visita à Hispânica Serra de Gredos. Uns de nós iriam escalar dois dos três Hermanitos (eu, o Nuno e o Diogo), enquanto que o Octávio , o António e o Tiago iriam tentar ascender ao segundo cume mais alto do maciço, o Galana, com 2568Mts de altitude, no entanto apenas aqui vou apresentar a primeira acividade.

Da esquerda para a direita: Nuno, Octávio, Tiago, António, Marco e Diogo

A nossa ideia seria escalar o 2.º e 3.º hermanitos, o 3.º pela sua via norte normal a (Teogénes Dias - IVº) aberta pelo mesmo Teogénes Dias (Teo) em solitário a 6 de Maio de 1932, após ter ascendido nesse mesmo dia também pela primeira vez ao 2.º hermanito, acompanhado por Tresaco e Guillermo Fuentes e o 2.º, também pela sua face norte, por uma via que desconheço nome mas que graduámos como (6c ou V+/A1).

Nuno no 3.º hermanito


A via do 3.º hermanito é de apenas um lance e calhou ao Diogo abri-lo

Ainda o Nuno no 3.º hermanito

Aproximação ao 2º hermanito. A Neve e Gelo obrigaram-nos a usar o piolet e crampons.


A via do 2.º hermanito tinha três lances e desta vez coube ao Nuno abrir o primeiro, a mim abrir o segundo e o Diogo abrir o terceiro.

Como era Natal ;-) ... eu nos primeiros metros do segundo lance.


O Nuno a chegar à segunda reunião



Nós no cume

APRESENTAÇÃO


Há já alguns meses que andava a tentar roubar uns minutos ao meu tempo para criar o meo blogue. Nele tenciono documentar algumas das actividades que vou realizando (e outras que já realizei) por essas paredes fora, bem como apresentar outras aventuras verticais que tenho vindo a desenvolver.


Vão passando por cá, não é preciso pedir licença para entrar ;-)


Marco Inácio